Um abrigo na jornada
Ao longo das rotas migratórias do Panamá, famílias chegam exaustas, com crianças nos ombros, em busca de segurança após dias na selva de Darién. Na cidade de David, franciscanos e outras organizações religiosas oferecem um momento de descanso, comida e acompanhamento para aqueles que não têm para onde ir. Para a maioria, essa jornada não é uma escolha, mas um último recurso, motivado por conflitos, perseguição, pobreza e os impactos crescentes das alterações climáticas.
Antes da Revisão Periódica Universal (UPR) do Panamá em novembro de 2025, a Franciscans International, juntamente com a Rede Franciscana para Migrantes – Panamá e outras organizações parceiras, apresentou um relatório alternativo conjunto documentando graves violações dos direitos humanos contra migrantes. Essas organizações fazem parte do Observatório de Mobilidade Humana em Darién e Outras Rotas Alternativas, um esforço coletivo que monitora a situação das pessoas em movimento e defende os seus direitos. Neste contexto, a FI participou ativamente nas pré-sessões da RPU para o Panamá, promovendo as recomendações incluídas na apresentação conjunta.
Perigo e negação da justiça
O Darién Gap, uma área que abrange o sul do Panamá e parte da Colômbia, tornou-se um espelho dos desafios migratórios das Américas. Entre 2020 e 2022, as travessias aumentaram quase 4.000%, atingindo um pico histórico de 520.085 pessoas que fizeram a travessia somente em 2023.
Em vez de segurança, os migrantes enfrentam mais perigos: roubos, extorsões, sequestros, desaparecimentos e violência sexual são frequentes. Médicos Sem Fronteiras (MSF) relatou ter prestado assistência a mais de 1.300 vítimas de violência sexual entre abril de 2021 e janeiro de 2024. O número real de vítimas é provavelmente muito maior, pois o medo e o estigma mantêm muitas pessoas em silêncio.
Esses riscos são ainda maiores para aqueles que já se encontram em situações vulneráveis, particularmente mulheres e meninas, que têm sido desproporcionalmente afetadas pela violência sexual.
O acesso à justiça continua sendo difícil. De acordo com o Provedor de Justiça do Panamá, 88% dos crimes cometidos contra migrantes em Darién não são denunciados devido ao medo, à falta de informação e à desconfiança. Mesmo quando os casos são denunciados, a justiça não é garantida. O caso de Jesús Vélez Loor, um migrante equatoriano torturado durante a detenção em 2002, ilustra essa realidade. Apesar de uma decisão de 2010 da Corte Interamericana de Direitos Humanos ordenando que o Panamá investigasse e fizesse justiça, o caso continua sem solução.
Da proteção à criminalização
Em vez de fortalecer os sistemas de proteção, o Panamá respondeu com medidas punitivas. Sob a «Operação Fluxo Controlado», os migrantes que saíam do Darién Gap eram confinados em Estações de Recepção de Migrantes (ERM), que especialistas da ONU e órgãos regionais de direitos humanos denunciaram como centros de detenção de facto com condições desumanas. Embora esses centros tenham sido fechados no início de 2025, nenhum sistema alternativo de recepção ou proteção foi estabelecido.
Em 2024, num esforço para conter a passagem de migrantes pelo Darién, o Panamá assinou um acordo com os Estados Unidos que acabou por ajudar o governo panamenho a deportar mais de 1.500 migrantes considerados «irregulares». Em fevereiro de 2025, o Panamá concordou em receber cidadãos de países terceiros expulsos dos Estados Unidos, apesar da ausência de uma avaliação completa e justa dos seus pedidos de refúgio antes da remoção. Entre eles estavam, por exemplo, cidadãos do Afeganistão, Irão e China, que tinham receios credíveis de perseguição nos seus países de origem.
O fluxo reverso
Nos últimos meses, surgiu também uma nova tendência: milhares de pessoas, impedidas de chegar aos Estados Unidos, estão agora a regressar para sul. Este «fluxo reverso» deixou muitas pessoas presas sem recursos, documentação ou passagem segura.
Estas falhas sistémicas tiveram consequências devastadoras para as famílias e crianças em trânsito. «As famílias chegam exaustas e traumatizadas, apenas para serem separadas. Enquanto algumas têm acesso a programas de regresso, outras, especialmente crianças sem documentos válidos, ficam presas em condições perigosas», explicou Vivian Cianca, psicóloga voluntária da Rede Franciscana para Migrantes – Panamá.


Só em fevereiro de 2025, mais de 2.000 pessoas tentaram regressar, muitas delas através de rotas marítimas perigosas. Alguns barcos viraram, deixando os sobreviventes traumatizados e as famílias de luto pelos seus entes queridos.
As redes franciscanas e eclesiásticas continuam empenhadas em prestar assistência. No entanto, como observou Vivian: «A falta de uma resposta abrangente do Estado baseada nos direitos humanos, incluindo o cuidado com as pessoas em situações de regresso, deixa a grande maioria em estado de vulnerabilidade.»
Por que é importante
A crise migratória do Panamá reflete padrões regionais e globais: as fronteiras estão cada vez mais militarizadas, os migrantes enfrentam criminalização e as organizações humanitárias enfrentam restrições crescentes. Acordos bilaterais para controlar a migração feitos sem transparência e cláusulas específicas de monitoramento dos direitos humanos correm o risco de minar os padrões internacionais de proteção.
A FI e os seus parceiros têm usado a sua presença na ONU para amplificar as vozes das comunidades de base. A sua apresentação conjunta à RPU insta o Panamá a:
- Adotar uma abordagem baseada nos direitos humanos para a migração.
- Acabar com a detenção de facto e garantir abrigos dignos e abertos.
- Garanta o acesso à justiça, especialmente para sobreviventes de violência.
- Torne o asilo acessível, justo e eficiente, incluindo autorizações de trabalho para os requerentes.
Aproveitando este impulso, a FI facilitou várias plataformas para a sociedade civil apresentar recomendações em nome dos migrantes, requerentes de asilo e pessoas em trânsito. Estes esforços criaram oportunidades para as organizações de base e os Estados se envolverem num diálogo construtivo, transformando as realidades locais em advocacy concreto a nível internacional.
Esta é uma tradução automática. Pedimos desculpa por quaisquer erros que possam ter ocorrido como resultado. Em caso de divergência, é a versão inglesa que faz fé.